Nanotecnologia para a saúde Wendorff está no Brasil pelo Programa Ciência sem Fronteiras, como pesquisador visitante. A vinda é fruto de um projeto apresentado por Patrícia ao programa do Governo Federal, que também concede incentivos para aproximar cientistas de países diferentes, com o intuito de estimular a cooperação entre os pesquisadores. O físico alemão é mundialmente reconhecido por seu trabalho com ciência dos materiais, eleito pela agência de notícias Reuters como um dos 100 mais importantes do mundo na última década em sua área de conhecimento. Da pesquisa inédita resultará um novo tipo de biomaterial para servir de suporte ao crescimento de células-tronco. A ideia é que este suporte auxilie de forma mais eficaz nos tratamentos de doenças em que a terapia com células-tronco é indicada. O material com as células poderá então ser aplicado em doentes com lesão medular, diabetes e doenças cardíacas, bem como para regeneração de cartilagens, nervos e ossos, explica Patrícia. A professora, que é formada em Farmácia e Bioquímica, realizou pós-doutorado em técnicas de nanotecnologia para a engenharia de tecidos. Na pesquisa, a função de Patrícia é investigar o suporte que o biomaterial criado por Wendorff chamado de scaffold oferece ao crescimento das células. Quando não está adequado ao proposto, o cientista alemão refaz o tecido. A cooperação segue até que o resultado esteja a contento. Com mais de 50 patentes registradas, que definem métodos de concepção de materiais nanotecnológicos (como nanofibras, nano hastes e nanotubos), ele pensa essas estruturas para agirem de forma a estimular a proliferação das células, que são aplicadas no material já pronto. Para tanto, ele realiza cálculos matemáticos que lhe indicam de que forma é possível aprimorar as estruturas. A importância da nanotecnologia está em uma busca constante pelo melhor material que possa ser usado para aperfeiçoar ou acelerar em larga escala uma função que demoraria muito mais tempo sem o auxílio da ciência. E, para isso, eu preciso fazer inúmeros cálculos antes de partir para a produção, explica Wendorff. Áreas diferentes em cooperação De acordo com o físico, há milhares de profissionais no mundo todo trabalhando com engenharia de tecidos, mas neste nível de cooperação há pouquíssimos. Patrícia e eu descobrimos que nossas áreas de pesquisa se encaixavam perfeitamente na área de engenharia e desenvolvimento de tecidos. E que, se decidíssemos pela colaboração mútua, seríamos capazes de encontrar uma linguagem em comum. E foi o que aconteceu, comenta ele. Wendorff trabalhou durante grande parte de sua vida acadêmica em parceria com químicos, mas conta que há alguns anos despertou interesse pela área da saúde em reuniões com colegas da Universidade de Marburg, das áreas de Medicina, de Farmácia e de Biologia. Conta que se envolveu de fato com essas cooperações em uma pesquisa com stents (tubos metálicos utilizados para prevenir ou impedir a obstrução do fluxo sanguíneo causado por entupimento das artérias). A partir desse episódio, não parou de procurar estudos em que pudesse cooperar com seus conhecimentos em nanotecnologia. No entanto, ele diz que isso às vezes é uma tarefa bastante complicada: Não é fácil de encontrar parceiros de outros departamentos ou de outras universidades com quem você pode falar o mesmo idioma, desenvolver ideias em conjunto, discutir medidas a serem tomadas a partir das perspectivas de duas áreas diferentes. Não há muitos cientistas aptos a fazer isso de forma eficaz. Muitos ainda não estão dispostos a envidar seus esforços de forma a permitir um diálogo interdisciplinar para além de suas próprias pesquisas, argumenta.]]>